http://www.geledes.org.br/legiao-negra-os-negros-na-revolucao-constitucionalista-de-1932/
Em
3 de outubro de 1930, Getúlio Vargas chega ao poder por meio de um
golpe de Estado. Junto ao movimento tenentista, o “presidente” se mostra
autoritário, caça adversários políticos e fecha instituições
democráticas, instalando uma espécie de ditadura no Brasil. Para São
Paulo, Vargas indicou o nordestino João Alberto para o cargo de
governador. As elites paulistas não aceitaram a situação e passaram a
defender a democratização do País. A pressão foi tanta que, João Alberto
e mais três interventores nomeados por Vargas para “comandar” São Paulo
foram derrubados.
Aos poucos, a luta que começou nas elites paulistas ganhou a adesão de toda a população.
Em 25 de janeiro de 1932, um enorme comício juntou todas as forças da
sociedade (até adversários políticos), afirmando que São Paulo iria até
as últimas consequências pela democratização do Brasil. Em 23 de maio,
uma greve mobilizou mais de 200 mil pessoas, que saíram às ruas para
protestar. No conflito com policiais ligados à ditadura, quatro jovens
estudantes foram mortos: Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo.
Começava
ali o movimento paulista de resistência à ditadura: o MMDC, que passou a
alistar populares – de todas as profissões e classes sociais – para a
Guerra Civil. Em 9 de julho de 1932, o Estado mais rico da Nação entra
em conflito contra as forças federais comandadas por Getúlio Vargas.
Todos são chamados para auxiliar, até as mulheres. E não seria diferente
com os negros…
1 – E m pouco tempo é formada
uma comissão beneficente para arrecadar apoio material e humano entre a
comunidade negra paulista. Surge a Legião Negra, que teve papel
relevante na Revolução de 1932. O peso político do negro era grande,
tanto que o próprio interventor de São Paulo, Pedro de Toledo, foi
pessoalmente até a sede da Frente Brasileira Negra (a maior e mais
respeitada entidade negra da época), pedir o apoio dos negros para a
guerra. Porém, vários integrantes eram vanguardistas e operários (classe
amplamente defendida por Vargas). Por isso, muitos negros não aderiram
ao movimento constitucionalista.
2
– Sem o apoio integral da Frente Brasileira Negra, a presença de negros
na revolução foi marcante e a Legião Negra (conhecida como os Pérolas
Negras), escreveriam para sempre sua passagem em nossa história. É
válido destacar que seu fundador e defensor, Joaquim Guaraná de Santana,
era inicialmente da Frente Negra Brasileira e rompeu com esta quando
não conseguiu apoio absoluto dos companheiros para a Legião Negra.
Guaraná fundou então um partido, o PRN (só de negros) e um jornal, o
Brasil Novo, em que se autoproclamava como a maior liderança negra do
Brasil, mas antes mesmo do fim da guerra ele foi afastado da Legião
Negra e substituído pelo advogado negro José Bento
3 – A s
principais frentes de combate da Legião Negra na guerra eram: Frente
Leste (na divisa com o Rio de Janeiro); Frente Norte (divisa com Minas
Gerais); Frente Oeste (divisa com Mato Grosso) e a Frente Sul (divisa
com Paraná). Mas a participação dos negros na Revolução
Constitucionalista não se fez apenas na Legião Negra, que contava com
cerca de 2 mil homens. Havia outros negros – mais de 10 mil – espalhados
por toda a força paulista. Vale lembrar que um dos principais
comandantes da revolução era negro. Seu nome? Palimercio de Rezende.
4
– Mesmo com os paulistas bastante confiantes, a diferença de forças era
brutal. São Paulo tinha cerca de 30 mil homens, enquanto as força
federais contavam com o dobro desse contingente, além de ser melhor
equipada, contando com aviões e todo o arsenal de guerra do Brasil. Com o
conflito, a cidade de São Paulo se modificou. Hospitais e fábricas
aumentaram a jornada de trabalho, as aulas nas escolas foram suspensas e
o transporte prejudicado. A iluminação elétrica (em fase de
instauração) ficou comprometida nos bairros mais distantes, causando
transtornos para a população, principalmente aos pobres e negros da
periferia.
5
- A pós quase 3 meses de luta, as forças constitucionalistas começaram
a enfraquecer. O número de mortos e feridos na guerra crescia e o
isolamento de São Paulo era total. Sem o apoio dos mineiros e dos
gaúchos (que também apoiavam uma nova Constituição, mas não lutavam ao
lado de São Paulo), a rendição – assinada em 1º de outubro de 1932 – foi
inevitável. Os principais líderes da revolução tiveram seus direitos
políticos cassados e foram deportados para Portugal. Valdomiro Lima,
gaúcho e tio de Darcy Vargas (mulher de Getúlio) foi nomeado interventor
militar em São Paulo e permaneceu no cargo até 1933. Mas a guerra não
foi em vão, porque, tempos depois, São Paulo conseguiu muitas vitórias
no campo político e econômico.
6 – Como em muitos episódios
marcantes que fizeram a história do Brasil, os negros ficaram
esquecidos, pois quase nada se falou da Legião Negra depois da Revolução
de 1932 e de praticamente 1/3 dos soldados constitucionalistas negros
que, há poucas décadas, haviam saído da escravidão. Do conflito, ficaram
várias lições: quando pensamos que perdemos a guerra, estamos perdendo
apenas uma batalha, porque todo o movimento foi fundamental para a
redemocratização do Brasil. A outra lição é que não existe história,
luta por liberdade e justiça neste país que não tenha a participação
efetiva dos negros brasileiros.
Guebala