sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Racismo à Brasileira - Negras Médicas e Domésticas

http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/08/negras-medicas-domesticas.html

Postado em: 28 ago 2013 às 11:01

No Brasil, a cara define sua profissão, o seu poder e a sua preferência no trânsito da vida profissional. A vinda de tantos médicos e médicas negras para o Brasil é um choque terapêutico para entendermos a profundidade do apartheid brasileiro

Por Marcos Romão
Poderia ser natural em meu Brasil, qualquer criança ou pessoa me perguntar qual a minha profissão, se eu responder, que sou médico, mesmo vestido de branco, feito respondi uma vez à uma balconista negra que me servia café, ela olhou desconfiada e me disse que pensava que eu parecia mais pai de santo, quando lhe afirmei que na verdade sou sociólogo, ela me olhou mais espantada ainda, dizendo, feito o presidente Fernando Henrique?
São situações naturais para qualquer negro no Brasil estas que acontecem no dia a dia com a gente, não somos o que somos somos apenas o que nascemos pra ser. Nascemos pra sermos nada ou quase nada.
Eu mesmo me flagro volta e meia ao conversar com as pessoas, com uma dúvida interior, que me faz perguntar no íntimo, será que o cara tá acreditando em mim,será que eu estou me apresentando mais do que devia para convencer o cara interlocutor, que eu sou o que sou e tenho a experiência que tenho? Será que não exagero ao me descrever, para convencer ao outro que sou eu mesmo o que sou?
Natural prá gente é ser servendte, empregado doméstico, supervisor de segurança se estiver de terno e até manobreiro, que alguém entrega a chave enquanto a gente espera a namorada chegar para nos encontrar em um restaurante fino.
Não importa se o interlocutor é negro ou branco, cortamos um dobrado para convencê-lo de que somos o que somos e basta.
médicas negras brasil
(Reprodução)
No meus vinte anos na Europa, qundo sentava em um bar, poderia estar ao meu lado uma chanceler da república ou uma empregada doméstica, que se eu não conhecesse pela foto, não saberia quem é quem.
Aqui não, se é branco é alguém, se não é branco que nos convença.
Aqui no Brasil se tem cara e não se tem cara e a cor da cara ajuda a definir a profissão, a posição e o poder diagnosticado na pessoa que você se confronta. Dependendo da nossa avaliação ou pedimos licença, ou passamos por cima.Quase sempre tem dado certo prá todo mundo. Quando não dá certo e alguém grita racismo, vem logo a desculpa, mas foi um mal entendido, esta não foi a nossa intenção.
Aqui a cara define a sua profissão, o seu poder e a sua preferência no trânsito da vida profissional.
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Até para as crianças que reconhecem tudo no espírito, é um problema identificar uma pessoa negra no seu cotidiano,que não faça parte do universo de pessoas a que esta criança esteja acostumada a ver as pessoas negras.
Médicas, engenheiras, arquitetas, presidentas escapam até para estas crianças do universo de domésticas a que elas estão acostumadas a verem suas mães, tias, quando são crianças negras, e babás quando são de criaças brancas que falamos.
Assim quando a jornalista potiguar Micheline Borges causa uma revolta nas redes sociais ao expressar sua opinião sobre os médicos cubanos que estão chegando ao Brasil para trabalhar no programa “Mais Médicos”. “Me perdoem se for preconceito, mas essas médicas cubanas tem uma cara de empregada doméstica”, como afirmou a repórter, me causa um certo espanto, sobre o porque de tanta revolta do público feissebuquiano, quando ela falou o que a maioria destes leitores pensam.
A infeliz cometeu apenas a besteira de confirmar o racismo que a maioria dos brasileiros carregam dentro do coração todos os dias.
Ninguém se espanta nem vai para as redes, perguntar por que só tem médicos brancos no Brasil.
Todos estão para lá de mal acostumados em verem cenas de filas negras espersndono SUS, e à 8 horas as filas de brancos estacionando os seus carros e descendo para atravessar aqueles mares negros de pessoas humanas de pele preta ou amareladas de fome, que sempre estão a sua espera.
Foi chocante assistir a chegada dos médicos cubanos em São Paulo, a foto estampada nos jornais chocou até a mim, homem vivido neste mundo planetário. Deus dos Céus, um monte de mulheres e homens com as caras dos peixeiros de nossas esquinas, fortes como os entregadores de gás do dia a dia, e com aquele olhar afável das nossas queridas empregadas domésticas, isto não estava no meu enredo de vida como um brasileiro negro, pois eram e são todas e todos médicas e médicos.
Quiseram os Deuses, via a transversal do comunismo, dar um choque terapêutico no nosso racismo, tão querido como um calo conservado de nossos avós?
E ainda aparecem uns jornalistas, que parecem que descobriram a pólvora do racismo brasileiro, a dizerem-se solidários com os cubanos, que sentem vergonha pelo racismo dos médicos brasileiros. Outros, menos jornalistas também sentem vergonha, como se o assunto não fosse com eles.
Meu avõ sempre dizia, vergonha de quem não se reconhece racista e lágrimas de crocodilos, não acabam com o racismo, nem enchem copo de quem tem sede por justiça e igualdade.
Tem mais de 125 anos que nós negros lutamos para termos acesso às escolas e quanto mais estudamos, mais as escolas de “excelência” ficam brancas.
Tem mais de 40 anos que lutamos por cotas, levamos 10 anos na justiça, ganhamos mas não levamos a quina, pois universidades como a de São Paulo, sempre arranjam um jeito de não permitirem nossa entrada.
Numa esquina perto de minha casa vejo todo dias dois mares de cores crianças se cruzarem,de um lado uma escola privadas, escola de excelência que forma prefeitos e governadores. As crianças brancas atravessam a rua em direção a zona rica da cidade. Do outro lado tem a Escola Pública , que forma as empregadas domésticas e os peixeiros da esquina.
As crianças se cruzam, pretas para as favelas e brancas pra os play grounds. Sinto que estamos enchendo um balde furado. Nossas crianças negras estão marcadas para perderem e morrerem.
Que a foto desta negrada cubana estampada nos jornais, tenha o mesmo efeito que a foto de Pelé teve na África do Sul, quando publicada na primeira página em 1958. Foi a primeira foto de um negro na primeira página de um jornal da África do Sul. A foto de Pelé inspirou muitos jovens negros da época, como me disse Desmond Tutu, ao verem que elas, crianças negras poderiam serem o que desejassem. Levaram 30 anos e estão conseguindo.
A vinda de tantos médicos e médicas negras para o Brasil(apesar de ser tão pouquinho café neste balde de leite que é o sistema de poder curador do Brasil)é mais do que um exemplo de ação para a saúde física de nosso povo racista até nas entranhas, é um choque terapêutico para entendermos a profundidade do apartheid brasileiro.
Aqui deixo como um exemplo a entrevista que fiz no início do ano com uma médica negra brasileira de minha cidade

Mamapress / Geledés

terça-feira, 20 de agosto de 2013

É mais fácil ser branco, no Brasil. Sakamoto

http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2012/06/29/o-censo-reafirma-no-brasil-e-mais-facil-ser-branco/


O Censo reafirma: no Brasil, é mais fácil ser branco
Comentários 77

Leonardo Sakamoto
De tempos em tempos, sai alguma nova pesquisa apontando que negros ganham menos que brancos no Brasil. Quando toco nesse assunto no blog, sempre aparece um gênio que diz algo como “Meu Deus, você não entende nada de política corporativa! Ou acha que seria permitido em uma grande empresa uma pessoa branca ganhar mais que uma negra pela mesma função?”.
O comentário demonstra uma certa incapacidade do leitor de extrapolar o pensamento para além do visível (como uma pessoa que cita o sobrenatural não consegue trabalhar com abstrações? Curioso…) e imaginar que estamos falando de uma média da sociedade.
Somos bombardeados com o mito da democracia racial brasileira, construído para servir a propósitos. Mito que se prova verdadeiro em novelas, minisséries ou alguns programas de TV, normalmente concebidos por brancos, mas que na vida real são tão concretos quanto a curupira, o boto e a mulher de branco.
“Ah, mas o preconceito no Brasil é contra pobre, não contra negro!” A despeito do fato de haver, proporcionalmente, mais negros entre os pobres do que brancos, por conta de uma herança maldita deixada por uma abolição que nunca ocorreu totalmente, a discriminação pelos não-brancos vive saudável por aqui.
Nesta sexta (29), o IBGE divulgou dados demográficos do Censo 2010, mostrando que brancos recebem salários mais altos e têm mais acesso ao estudo do que negros, divididos pelo estudo em pretos e pardos, conforme matéria trazida pelo UOL Notícias. Na região Sudeste, os rendimentos dos brancos é o dobro do que é pago aos pretos. Há mais empregadores entre os brancos (3%) do que entre pretos (0,6%) e pardos (0,9%). Por fim, do total da população, 9,6% são analfabetos. Já, entre os brancos, 5,9%. E entre pardos e pretos, 13% e 14,4% respectivamente. Vale ressaltar que, de acordo com o Censo 2010, os brancos totalizam 47,7% da população, enquanto pretos e pardos correspondem a 50,7%.
Um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) aponta que os homens brancos apresentaram as menores taxas de desemprego em 2005 (6,3%) – número que subia para 8,1% entre os homens negros e para 14,1% entre as mulheres negras. A diferença entre o rendimento médio dos homens brancos e negros havia caído 32,6% entre 1995 e 2005. A causa não foi tanto a melhoria do salário dos negros, que existiu, mas uma piora nos ganhos dos brancos – proporcionalmente, mais acentuada.
Não há uma pesquisa honesta que comprove relação entre capacidade intelectual e cor de pele. Ou alguma razão biológica bisonha que faça alguns preferirem ganhar mais do que outros. A resposta para esse quadro está nas oportunidades a que cada um teve acesso e as barreiras impostas a elas pela cor de pele.
Pretos, pardos e brancos deveriam ser tratados como iguais uma vez que são iguais. Mas, historicamente, a eles não foi dado o mesmo tratamento. Encarar, portanto, pessoas com níveis de direitos diferentes como iguais é manter o nosso bizarro status quo. Não basta cotas em universidades. Temos que avançar para reservas de vagas em cargos da administração pública, no sistema judiciário e em outras instâncias. Não eternamente, mas até conseguirmos corrigir o imenso fosso que separa brancos e negros.
Como gosto sempre de lembrar, o quase ex-senador Demóstenes Torres praticamente afirmou que escravas negras não foram violentadas pelos patrões brancos. Afinal de contas, segundo ele ao criticar as cotas para negros em universidades públicas federais em 2010, “isso se deu de forma muito mais consensual” e “levou o Brasil a ter hoje essa magnífica configuração social”. E que, no dia seguinte à sua libertação, os escravos “eram cidadãos como outro qualquer, com todos os direitos políticos e o mesmo grau de elegibilidade”. Pô, em que mundo ele vive?
O Brasil ainda não foi capaz de garantir que os filhos dos libertos fossem tratados com o respeito que seres humanos e cidadãos mereciam. Herança maldita presente na sociedade que quase equivale, na prática, a um sistema de castas. Alguns até conseguem escapar, mas a maioria das famílias permanece girando em círculos ao longo de gerações. O pior é que a discriminação é sempre do outro, nunca de nós mesmos.
No avião, dia desses: “Não sou preconceituosa, longe disso. Mas não gostaria que minha filha casasse com aquele ‘moreninho’, namorado dela. Não é por mim, sabe, mas os filhos vão sofrer um preconceito muito grande, a família do meu marido não vai entender direito. É complicado…”
Ô se é.

Comentários 77

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  1. Avatar de AngeloTricolor

    AngeloTricolor

    6 meses atrás
    Sem por nem tirar. Texto perfeito. Ouço muita bobagem sobre a questão racial no Brasil e sobretudo em relação ao sistema de cotas. É um discurso reto, que vem desde a época da escravidão. E ainda por cima, hoje misturam a questão racial, com a do homossexual, como se os direitos estivessem no mesmo contexto. Tudo na vida, não precisa ser eterno e não o é, assim como o sistema de cotas, que vai servir para formar um grupo e este vai formar outros, até que não precise mais utilizar esse artifício de inclusão. Isso é que muitas pessoas não entendem ou se fazem de desentendidas.
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  2. Avatar de Cora.

    Cora.

    2 anos atrás
    gentem, que medo!! li alguns comentários do youtube ao vídeo que postei na outra mensagem, do louis ck, e... pessoal não entendeu NADA! não entenderam a crítica!! putz! tão confundindo uma crítica bem feita com as grosserias dos bastos e gentilis da vida. Pessoal tá mals! Não gosto de tudo que o louis ck faz não (óbvio, falo do que vi até agora, tem umas piadas que achei fracas), mas essa foi certeira, no alvo, e pessoal não entendeu!!
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  3. Avatar de Cora.

    Cora.

    2 anos atrás
    O comediante Louis C. K. não acha difícil reconhecer seus privilégios (being white/ser branco. Dá um Google, aê). Coisa aparentemente impossível para as pessoas aqui, incapazes de levantar os olhos do umbigo (ai meu embigo, hahaha!). Triste, triste. Diria até patético. // “Eu sou um homem branco! Vocês nem sequer podem magoar os meus sentimentos!” (louis ck). // Saka, tá insuportavelmente chato comentar aqui. Sei que vai passar o outro comentário também, mas fica este, só pra reforçar (e protestar). Teu blog não é mais um espaço pra debate, infelizmente!!
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  4. Avatar de Cora.

    Cora.

    2 anos atrás
    O comediante Louis C. K. não acha difícil reconhecer seus privilégios (being white/ser branco. Dá um Google, aê). Coisa aparentemente impossível para as pessoas aqui, incapazes de levantar os olhos do umbigo (ai meu embigo, hahaha!). Triste, triste. Diria até patético. // “Eu sou um homem branco! Vocês nem sequer podem magoar os meus sentimentos!” (louis ck). // *
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  5. Avatar de Antenor Boas-Vindas

    Antenor Boas-Vindas

    2 anos atrás
    "Não basta cotas em universidades. Temos que avançar para reservas de vagas em cargos da administração pública, no sistema judiciário e em outras instâncias. Não eternamente, mas até conseguirmos corrigir o imenso fosso que separa brancos e negros." Sakamoto, já que você gosta de pesquisas sérias, sugiro a leitura do livro 'Ação afirmativa pelo mundo: um estudo empírico', de Thomas Sowell (ele mesmo um negão), em que ele mostra que em lugar nenhum do mundo essa idéia maluca de separar as pessoas por raças tenha funcionado, e, como quem quer curar o envenenado dando-lhe ainda mais veneno, o caráter inicialmente temporário (o tal "não eternamente") das políticas acaba sempre sendo transformado num "eternamente", com conseqüencias cada vez mais desastrosas.
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  6. Avatar de Antenor Boas-Vindas

    Antenor Boas-Vindas

    2 anos atrás
    Engraçado. Primeiro o Saka afirma que: "Não há uma pesquisa honesta que comprove relação entre capacidade intelectual e cor de pele. " E depois conclui taxativamente que "A resposta para esse quadro está nas oportunidades a que cada um teve acesso e as barreiras impostas a elas pela cor de pele. " Pergunto: cadê as pesquisas para provar essa sua conclusão maluca?
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  7. Avatar de Coeh'nn Goldhill

    Coeh'nn Goldhill

    2 anos atrás
    Olha o racismo descarado: brancos, índios, amarelos, pardos e "afrodescendentes". Por que não dizermos negros? Fica a impressão que eles não são brasileiros e sim estrangeiros infiltrados em nosso país. Sendo assim deveríamos dizer: eurodescendentes, asiaticodescendentes, indios e afordescendentes. Em minha opinião somos todos brasileiros independentes da cora da pele.
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MODA - EM BRANCO

CABELOS - Hidratação - Umectação

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Rainha negra na Festa do Peão de Barretos




http://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/festa-do-peao-de-barretos/2013/fotos/2013/08/festa-do-peao-de-barretos-elege-2-rainha-negra-na-historia.html#F903559

Festa do Peão de Barretos elege 2ª rainha negra da história

Educadora física Camila Rocha, de 24 anos, ministra aulas de dança e já foi musa do carnaval da cidade.

MODA - ELEGÂNCIA AFRICANA

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10151441453040946&set=a.417974405945.208113.99607900945&type=1&theater


MODA - NIGÉRIA


https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10151452786495946&set=a.417974405945.208113.99607900945&type=1&theater


Henry Louis Gates Jr., historiador discute sobre a cultura negra


Historiador Henry Louis Gates Jr. discute sobre a cultura negra africana e brasileira


http://globotv.globo.com/globo-news/milenio/v/historiador-henry-louis-gates-jr-discute-sobre-a-cultura-negra-africana-e-brasileira/2738101/

Oscar Micheaux: O Cinema Negro e a Segregação Racial

http://www.clicabrasilia.com.br/site/noticias_cultura.php?mostra-oscar-micheaux&secao=V&id=488659
No CCBB-Brasília-DF, de 13 a 25 de agosto de 2013

Oscar Micheaux: O Cinema Negro e a Segregação Racial
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Fundador do cinema negro americano em 1919, o americano Oscar Micheaux desempenhou papel fundamental na formação do cinema negro americano por ter sido o primeiro negro a produzir um longa-metragem nos Estados Unidos. A retrospectiva de sua obra estará em cartaz de 13 a 25 de agosto, no Centro Cultural Banco do Brasil Brasília.

Diretor de 42 filmes ao longo de três décadas, além de roteirista, produtor, distribuidor e showman, Micheaux foi um dos maiores produtores dos race pictures, produções de baixíssimo orçamento produzidas por e para negros nos EUA entre as décadas de 1920 e 1950, durante o auge da segregação racial. Além de ter sido o pioneiro no cinema negro americano ao lançar, em 1919 o The Homesteader – baseado em um livro de sua própria autoria e em sua experiência como proprietário de terras – Micheaux também foi o primeiro negro a produzir um longa-metragem sonoro, O Exílio, de 1939.

Por meio de seus filmes, combatia o racismo e procurava esclarecer a consciência dos afroamericanos em tempos de racismo aberto e legalizado. “Uma das grandes tarefas da minha vida tem sido ensinar que os homens de cor podem ser qualquer coisa”, foi uma de suas frases mais célebres.

Ele também dirigiu Dentro de Nossas Portas (1920) e O Símbolo do Inconquistado (1920), respostas diretas aos estereótipos racistas de O Nascimento de Uma Nação (1915), épico de D. W. Griffith.

No dia 14 de agosto, às 20h 30 min, o Mestre em Cinema pelo Instituto Tecnológico de Massaschussets (MIT), Richard Peña ministrará uma palestra sobre a obra de Oscar Micheaux no cinema do CCBB Brasília.

Com curadoria de Paulo Ricardo Gonçalves de Almeida, a mostra vai apresentar 22 títulos dirigidos por Micheaux, além do clássico de D.W. Griffith, O Nascimento de uma Nação (1915). A programação também conta com a realização de debate com convidado internacional especialista na carreira do cineasta.

Oscar Micheaux
O cineasta nasceu em 1884 em Metropolis, Illinois, um dos 13 filhos de um casal de ex-escravos. Aos 17 anos, mudou-se para Chicago, onde arrumou um emprego como carregador. Mais tarde, tornou-se proprietário de terras em Dakota do Sul, e retornou a Chicago para montar sua própria produtora de filmes e editora de livros, a Micheaux Film and Book Co.

Race Movies
Os “Race Movies” mostram a reação da cultura negra americana aos estereótipos que Hollywood, sobretudo a partir de O Nascimento de Uma Nação (1915, de D.W. Griffith), propagou: afro-americanos como estupradores, ladrões e preguiçosos, ou seja, como reais ameaças à sociedade branca dominante. Racismo herança da escravidão, que se cristalizou nas leis segregacionistas conhecidas como “Jim Crow Laws” e se espalhou também na literatura, no teatro e no vaudeville, com o show de blakface (atores brancos que pintavam o rosto de preto). Filmes independentes e realizados com pouquíssimos recursos, os “Race Movies” foram a chance de os negros olharem e falarem para si mesmos, através de temas que mobilizavam tanto o Norte urbano e industrial (Harlem, Chicago), quanto o Sul rural: casamento entre raças, linchamentos, cinebiografias de afro-americanos famosos (o boxeador campeão do mundo Joe Louis, por exemplo), jazz e blues.

Descrição
A mostra Oscar Micheaux: O Cinema Negro e a Segregação Racial exibirá um total de 23 títulos, a maior parte deles de diretores negros como Oscar Micheaux e Spencer Williams. Entre os destaques da programação, estão Dentro de nossas portas (Within Our Gates), filme-resposta de Micheaux a O Nascimento de uma Nação (Body and Soul) que traz Paul Robeson no papel de um pastor negro inescrupuloso, e O Sangue de Jesus (The Blood of Jesus), que apresenta cenas impressionantes de um batismo em um rio numa comunidade negra rural da época. Será exibido também o próprio O Nascimento de uma Nação (The Birth of a Nation), polêmica obra de D. W. Griffith.

PROGRAMAÇÃO
TERÇA
16:00 - Gertie Indecente do Harlem, EUA (65 min, 14 anos)
18:30 - O Sangue de Jesus (65 min, 12 anos)
20:30 – PALESTRA (120 min, 14 anos)

 
QUARTA          
16:00 - A Garota de Chicago - (70 min, 14 anos)
18:30 - Milagre no Harlem - (71 min, 14 anos)
20:30 - Juke Joint - (60 min, 14 anos)
 

QUINTA            
 16:00 - O Nascimento de Uma Nação (195 min, 16 anos)
 20:30 - Dentro de Nossas Portas (78 min, 16 anos)


SEXTA
14:00 - Na Sombra de Hollywood (59 min, 12 anos)
16:00 - Dez Minutos para Viver (58 min, 14 anos)
18:30 - O Cantor de Jazz (88 min, 16 anos)
20:30 - Corpo e Alma (86 min, 16 anos)



SÁBADO
14:00 - O Símbolo do Inconquistado       (65 min, 14 anos)
16:00 - Uma Cabana no Céu (98 min, 14 anos)
18:30 - Swing!   (75 min, 14 anos)
20:30 - Aleluia!  (109 min, 14 anos)
 

DOMINGO      
 14:00 - Lua Sobre o Harlem (69 min, 14 anos)
16:00 - Imitação da Vida (111 min, 14 anos)
18:30 - Os Filhos Adotivos de Deus (75 min,  16 anos)
20:30 - Assassinato no Harlem   (96 min, 14 anos)
 
 TERÇA  
16:00 - Marchando! (83 min, 14 anos)
18:30 - Almas do Pecado (65 min, 14 anos)
20:30 – Submundo (98 min, 14 anos)
 
QUARTA
16:00 – Magnólia (113 min, Livre)
18:30 - Corpo e Alma     (86 min, 16 anos)
20:30 - O Sangue de Jesus (65 min, 12 anos)
 
QUINTA            
16:00 - Aleluia!  (109 min, 14 anos)
18:30 - Desce, Morte!   (65 min, 14 anos)
20:30 - O Exílio  (93 min, 14 anos)


SEXTA
 14:00 - Sombra da Meia-Noite  (54 min,  14 anos)
16:00 - A Garota no Quarto 20   (63 min, 14 anos)
18:30 - Juke Joint             (60 min,  14 anos)
20:30 - Os Filhos Adotivos de Deus (75 min, 14 anos)

 
SÁBADO
14:00 - O Símbolo do Inconquistado (65 min, 14 anos)
16:00 - Dentro de Nossas Portas (78 min, 16 anos)
18:30 - Lua Sobre o Harlem (69 min, 14 anos)
20:30 - Assassinato no Harlem   (96 min14 anos)

 
DOMINGO
14:00 - Desce, Morte!   (65 min, 14 anos)
16:00 – Submundo (98 min, 14 anos)
18:30 - Dez Minutos para Viver (58 min, 14 anos)
20:30 - Swing!   (75 min, 14 anos)


Fonte: Da redação do clicabrasilia.com.br




quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Nossos sentimentos, YÁ MUKUMBI

INTOLERÂNCIA RELIGIOSA ATÉ QUANDO?
Neste caso, como sempre, justificado como surto!

Graça Santos
 Afro N`Zinga


http://www.palmares.gov.br/2013/08/entre-o-indizivel-e-o-narravel-palavras-possiveis-para-yamukumbi-farol-para-as-culturas-negras/

Entre o indizível e o narrável: Palavras possíveis para Yá Mukumbi, farol para as culturas negras

terça-feira, by marakarina

“É surpreendente que se tenha tão pouco a dizer justamente a respeito de acontecimentos tão extremos. A linguagem humana foi inventada para outros fins.” – Ruth Klüger


Se não há lugar no simbólico, não vai existir narrativa capaz de recobrir os acontecimentos humanos, restando apenas as marcas indeléveis da experiência traumática. Os assassinatos de dona Vilma Santos de Oliveira,66, a sempre querida Yá Mukumbi, de sua mãe, Alial de Oliveira dos Santos, 86, e neta, Olívia Santos de Oliveira,10, em uma investida psicótica de um vizinho no último sábado, 3, em Londrina, é um desses terríveis episódios traumáticos que alojam-se além da capacidade de qualquer nomeação, das possibilidades de representação. As palavras resistem às tentativas de conferirmos sentido ao ocorrido e como toda experiência traumática, a perda brutal de Yá Mukumbi e parte de sua família deixam feridas abertas na memória coletiva e abrem um flanco para questionamentos irrespondíveis: Por que aconteceu? Por que elas? Como uma mulher da estatura de dona Vilma tem sua vida interrompida por um homem inteiramente tomado de surto psicótico, conforme atestou laudo médico? De onde vem desmedida loucura? Houve fundamento religioso no bárbaro ataque? Acrescente-se à tragédia na casa de mãe Vilma, o fato de que minutos antes, o assassino cometera uma outra, matando a própria mãe, num forte prenúncio de que quando se mata a própria mãe tudo o mais é possível.  Um crime só contra mulheres, velhas e nova, de quatro gerações, perpetrado por um homem em trajes menores de posse de uma faca.
Emborasucedam-se casos semelhantes ao ocorrido na Rua Olavo Bilac, no fatídico dia 3, o horror que cada história singular evoca é sempre sem par. Não existem parâmetros nem reincidências com os quais podemos nos apaziguar em termos narrativos. Comoção, perplexidade, dor, vazio, revolta, nos assaltam sem podermos sequer acomodar o luto, que parece se arrastar indefinidamente. O que nos resta, então, num “cenário de terra arrasada”?
Os estudos psicanalíticos nos ensinam que embora o trauma habite o campo do indizível, impõe-se a necessidade dese tecer uma narrativa do depois, um discurso que rearranje o que ficou fora de lugar, de se produzir um efeito de tempo, uma (res)significação do choque, a deflagração incontornável de um processo de reconstrução. Qual seria, então, a narrativa possível? Quais as possibilidades de representação do inominável?
A vida plena, a vida digna, a vida austera sem ser pesada, a vida terna, a vida leve, a vida lúdica, a vida comprometida, a vida engajada, a vida vivida de Yá Mukumbi – uma vida desproporcional ao seu desfecho – nos restitui a possibilidade de contar uma história e construir memória sobre ela, sua mãe e neta.
Mãe Vilma ou Yá Mukumby Alagangue, nome de origem quimbundo, movimentava-se sobre um largo espectro: zeladora do terreiro do Ylê Axé Ogum Mege, militante histórica do movimento negro de Londrina, mulher altiva, integrante de fóruns e associações locais e nacionais, coordenadora do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial, cantora de estirpe, dona de uma voz altissonante, mãe de seis filhos, cozinheira de mão cheia, gestora cultural e política dos expedientes da população negra, convicta defensora das cotas raciais para jovens negros nas universidades públicas (protagonizou a implantação das cotas na Universidade Estadual de Londrina, em 2005, e manteve-se fiel a luta ao engrossar as fileiras pela manutenção desta política, em 2011), generoso ser humano, diuturnamente atenta àqueles que vivem nas franjas da sociedade,construiu um biografia sólida, sagrou-se pessoa extraordinária, sempre pôs-se acima do banal. A densidade e força que lhe eram peculiar renderam-lhe um livro “Yá Mukumbi: a vida de Vilma Santos de Oliveira”, escrita por professores e estudantes da Universidade Estadual de Londrina (UEL), em 2010.
Do lugar em que via o mundo, a partir de múltiplos prismas, não abriu mão de princípios éticos e de justiça para combater o racismo, o sexismo e a intolerância religiosa. Do alto de sua sabedoria, sabia “converter” jovens para o combate contra a discriminação racial ofertando a eles possibilidades de tecerem um trajetória vinculada à ética, ao bem fazer e ao bem viver. Sempre pronta para as lides dos movimentos negros, deixava um lastro de esperança para aqueles que supunham estar tudo ou quase tudo perdido. Nunca se omitia frente às injustiças e problemas sociais e, habitualmente, se lançava de maneira proativa para equacionar os dramas de quem dela se aproximava. Crianças, para ela, era patrimônio de primeira linha; delas, costumava dizer, tínhamos o compromisso de cuidar. O abate de sua neta de dez anos confere à tragédia, por esses e outros motivos, uma carga ainda mais brutal.
Consagrada figura pública, Yá Mukumbi prestou serviço para o Estado brasileiro, fez sua voz ecoar no ambiente acadêmico, desarmou teorias caducas para pensar a sociedade, atraiu a atenção de figuras públicas, como Gilberto Gil, que pediu-lhe artigo para uma publicação; mantinha vínculos afetivos com tantas outras, a exemplo de Dona Zica.  Inegavelmente, esta mestra fincou raízes para substantivas mudanças sociorraciais, ampliou o escopo das culturas negras, protegeu e salvaguardou o patrimônio africano no Paraná, construiu fronteiras para a manutenção das manifestações artísticas orientadas pelo protagonismo do negro, sem, contudo, erguer delimitações, tampouco promover distinções e exclusões. Direta e indiretamente, reorientou as políticas públicas no campo da cultura e da religião…
A Fundação Cultural Palmares (FCP) prestou-lhe singela homenagem em 2008. Na época, como agora, sabia do alcance das práticas de Yá Mukumbi. Sente-se, como todos, imersa em uma experiência por ora dolorosa, em que o poder público se apequena com a perda de uma gestora cultural imprescindível. Mas, acredita-se: no horizonte do possível, torna-se compromisso inadiável da FCP e outras instituições pinçar, do oceano de  iniciativas de Yá Mukumbi, referências e práticas para a emancipação da sociedade, livre de racismos, sexismos, intolerância religiosa.Entre o irrepresentável da tragédia e o narrável da esperança, fiquemos com esta última possibilidade, virtude que mãe Vilma sempre nos legou e continuará assim fazendo.
Rosane da Silva Borges
Coordenadora geral do CNIRC (Centro Nacional de Informação e Referência da Cultura Negra)/ Fundação Cultural Palmares/MinC
Professora da Universidade Estadual de Londrina (UEL)
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2 respostas a Entre o indizível e o narrável: Palavras possíveis para Yá Mukumbi, farol para as culturas negras

  1. Marcelo - 2 dias atrás

    Profa. , recebi seu texto de uma grande amiga e quero agradecer IMENSAMENTE! Seu texto contribui e MUITO para dissipar essa insistente angústia no peito…Cenários tristes e trágicos como em Londrina e tambem do (suposto) ato cometido por esse menino em São Paulo…OBRIGADO! Marcelo
  2. Tata Ngunz'tala - 2 dias atrás

    Que Nzambi Mpungu e todos nossos ancestrais recebam esta venerável matriarca, agora também ancestral do “povo de Santo”.

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