terça-feira, 6 de novembro de 2012

SUBURBIA -


Suburbia retrata o universo da cultura negra e carioca

O diretor Luis Fernando Carvalho fala sobre nova série, que estreia hoje
    
31/10/12 às 18:25 Luiz Zanin Oricchio

(foto: Rede Globo / Estevam Avellar)
Uma garota pobre do interior foge de casa e vai tentar a sorte no Rio de Janeiro. Este, o ponto de partida de Suburbia, minissérie de Luiz Fernando Carvalho, que a Globo começa a apresentar na quinta-feira.
Conceição (Débora Nascimento e depois Erika Januza) vive com a família no interior de Minas e, depois de perder o irmão numa explosão da carvoaria, decide fugir de casa e ir para o Rio. É um peixinho fora d’água e, até decodificar as manhas da metrópole, sofrerá uma série de percalços, inclusive a prisão injusta.
Nessa série, o público encontrará muito do estilo de Luiz Fernando Carvalho, o cineasta festejado de Lavoura Arcaica e responsável por algumas das minisséries mais autorais da TV brasileira como Os Maias, Hoje é Dia de Maria, Capitu e A Pedra do Reino. Apuro visual, técnica refinada nos movimentos de câmera, etc. Mas notará, também, uma pegada realista e documental que não se via em suas obras anteriores.
Encontrará, também, um universo temático um tanto diferente dos habituais de Luiz Fernando Carvalho. Seu leque de interesse tem a cultura brasileira como ponto comum. Não por acaso, a grande maioria de sua obra é inspirada em autores famosos como Machado de Assis, Raduan Nassar e Ariano Suassuna. Em Suburbia, a parceria é com um autor contemporâneo, Paulo Lins, o mesmo de Cidade de Deus.
Paulo Lins, autor do romance que serviu de ponto de partida ao filme homônimo de Fernando Meirelles, um dos grandes sucessos do cinema brasileiro contemporâneo, é homem com vivência das favelas e da zona norte carioca. Local onde boa parte da história de Suburbia se desenrola. Além disso, a trama se inspira em uma vivência pessoal de Luiz Fernando Carvalho, como ele explica nesta entrevista.

Agência Estado — Primeiro, gostaria de perguntar sobre a formação do elenco. Aparentemente, você quis trabalhar com atores e atrizes menos conhecidos do público de TV. Como chegou a eles e por que fez essa opção? 
Luiz Fernando Carvalho —  As minhas anotações que deram origem ao seriado não eram ficção, vinham da realidade. Explico melhor: Betânia era uma mãe preta que tive por mais de 25 anos. Começou a trabalhar aqui em casa como faxineira, mas logo se tornou fundamental na minha vida, pela carga de afeto que nutríamos um pelo outro. Negra, analfabeta, mas cheia de vida e inteligência, vez por outra rememorava seu passado, sua trajetória de vida, fazendo isso com muita riqueza de detalhes, enquanto preparava meu almoço ou arrumava a casa. Eu ali, diante de tantas memórias fascinantes, um dia comecei a anotá-las sem ter a menor noção do que um dia faria com aquilo tudo. Essa premissa em forma de documento me norteou em termos de linguagem narrativa. Achei por bem evitar todo e qualquer artifício que tornasse aquele depoimento original alegórico, falso. Procurei me aproximar do registro documental, de uma narrativa e de uma câmera mais jornalística, dispensando, radicalmente, alguns acessórios de filmagem, todo aquele aparato técnico que a ficção oficial se apropria, como gruas, travelings, lentes especiais, etc. O mesmo foi buscado em relação à linguagem do texto e à escalação do elenco. A partir do momento que encontrei minha Conceição, acabei armando um quebra-cabeças comigo mesmo, no qual foi impossível continuar a pensar a escalação das outras personagens sem a ideia dos “não atores” ou atores desconhecidos.

Depois, gostaria que comentasse um dado da história, propriamente: a saída da menina Conceição do interior para o Rio de Janeiro. O que o atraiu nessa trama? O desejo de registrar uma realidade que é a de boa parte da população pobre

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