segunda-feira, 25 de junho de 2012

TECIDOS - MALI: UMA VIAGEM PELOS TECIDOS




PELO MUNDO
Mali - uma viagem pelos tecidos



      


  Papéis de parede de Mali


Muito mais que moda passageira, os tecidos do Mali carregam uma rica simbologia, capaz de decifrar a alma de povos ancestrais. Franjas que chamam chuva, o traço que sinaliza um bom caminho, a flecha que alerta contra pessoas desonestas... Nesse país, o novelo de significados é infinito, como conta aqui a fotojornalista Marie Ange Bordas
Yanoga e sua obra-prima: tecido tingido com índigo, especialidade
do país Dogon
- Madame, madame, dê uma olhada, nem que seja só para admirar!
- Que tal um lindo colar tuaregue legítimo?
- E este belo cobertor de lã Peul! Venha cá, madame!
O amplo sorriso dos vendedores me persegue em praticamente todos os lugares que percorro pelo Mali. Ensaio meu melhor olhar desinteressado, murmuro um non-merci ('não, obrigada') ou abro um sorriso rápido. Mas resistir à tentação dos onipresentes vendedores não é tarefa fácil. O Mali é conhecido por ter um dos mais ricos artesanatos da África, das jóias tuare-gues às esculturas dogon, passando por uma infinidade de tecidos -wax industrializados, sintéticos, tingidos à mão, artesanais de algodão ou de lã-, produzidos pelas diferentes etnias que povoam o país, como Bambara, Peul, Malinké, Tuaregue e Dogon.
Sidik Doumbia, em frente ao ateliê Ndomo
Mas falar de tecidos na África ocidental significa muito mais do que falar de moda ou artesanato: é um caminho para decifrar costumes locais e compreender um pouco mais da intrincada história de cada lugar. Na raiz da cultura têxtil oeste-africana está a tecelagem, técnica dominada pelas antigas civilizações desde o século 9, bem antes da chegada dos europeus. Quando desembarcaram na costa do atual Senegal, no século 15, os portugueses ficaram estupefatos ao perceber que 'os selvagens' não só cultivavam e teciam o algodão, mas também o tingiam de azul intenso. O azul do índigo logo se tornaria matéria-prima disputada pelos europeus, assim como o foram as tiras de algodão, tecido utilizado como moeda de troca até pouco depois da Segunda Guerra Mundial.
Segundo maior produtor de algodão da África (atrás do Egito), o Mali tem uma tradição têxtil que remonta há mais de mil anos, quando quase todas as mulheres sabiam fiá-lo e a maioria dos agricultores tecia nas horas vagas. Tecer tem significados rituais e mitológicos. Para o povo dogon, a linguagem é indissociável do tecer. O termo sou, por exemplo, significa 'palavra', mas também a faixa de tecido que sai do tear. Para eles, 'estar nu é estar sem palavras'.
Os homens desenham os lindos motivos do Bogolan


Homens e mulheres dividem as tarefas de
tecer, tingir
e desenhar

Os símbolos do Bogolam
Céfarin jala: literalmente, a cintura do corajoso.
Simboliza bravura ou fecundidade
Dankun: cruzamento de dois caminhos. Evoca um sacrifício por outras pessoas
Falifereke: a imagem representa animais
domésticos presos. É um símbolo do imobilismo
Juru sarabali ka sira: ziguezague, o caminho
tomado por quem não quer pagar suas dívidas
Kalabanci ka sira: caminho feito pelo impostor, aquele que finge ser quem não é
Kolon kisèso: a casa das conchas (ou moedas).
É o lugar onde se guarda a fortuna
Bunteni ku: a cauda do escorpião, sempre
associada a pessoas desonestas, traiçoeiras



AINDA NESTA MATÉRIA


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Página 2: Segunda pele
Página 3: A jóia do Níger
Página 4: Tecelões na falésia



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