sábado, 29 de outubro de 2011



Reportagem Especial: Trajetória das Modelos Negras 

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Durante as ultimas décadas do século passado e, dos primeiros anos desse novo século essas mulheres conquistaram mais que seu espaço no mundo fashion. Foram de encontro à intolerância promovendo à igualdade

Ao longo da história em muitas sociedades o homem se valeu da subserviência como mão de obra; das civilizações mais antigas e infelizmente até as atuais, a escravidão ainda é uma triste realidade.  Talvez essa introdução seja necessária para explicar porque até hoje, modelos negras estão abrindo o mercado para sua raça.
Nos anos 40 a texana Dorothea Towles Church mudou-se para Los Angeles, na busca de ser atriz, porém foi desencorajada já que nessa década negros nunca recebiam papéis relevantes no cinema. Antes de migrar Dorothea se graduou em Biologia e, concluiu um mestrado na área da educação, mas decidiu tornar-se modelo. Matriculou-se em uma escola especifica, – foi à primeira negra no curso – posteriormente passou a trabalhar em eventos direcionados ao publico negro, na costa Oeste.
 
Em 1949 em viagem a Paris, foi descoberta por Christian Dior que a chamou para substituir uma das suas modelos, que estava em férias. Em cinco anos Dorothea Towles tornou-se uma das principais modelos da década de 50 em Paris, foi à primeira negra a estampar a capa da revista Jet. Anos mais tarde foi capa da revista Sepia, com cabelos loiros a pedido de Christian Dior.
Nos corredores dos desfiles era titulada como taitiana e, não negra, e independente dos preconceitos que sofreu se manteve firme. Quando foi convidada para capa da revista Ebony, Pierre Balmain recusou vestir a modelo, Dorothea simplesmente comprou o vestido do estilista e fez as fotos.
Após breve permanência na Europa ela voltou para EUA, em New York e passou desenvolver seus próprios vestidos, com tecidos angariados de grandes estilistas. Toda a renda do trabalho foi destinada para Alpha Kappa Alpha, a primeira irmandade de mulheres negras em universidades americanas.
Já a modelo Naomi Sims após se formar em psicologia decidiu ser modelo, e durante um bom tempo bateu na porta de várias agências, que nunca a contratavam por “Ter a pele muito escura”. Em meio a esses desencontros Naomi conheceu o fotógrafo Gosta Peterson, que a colocou na capa do Fashion of the Times, suplemento de moda do New York Times, – isso em 1967 – o material não surtiu efeito e sua carreira continuou no mesmo estágio. Um tempo depois Naomi conheceu Wilhelmina Cooper – ex modelo que acabará de construir uma agência – que disparou seu material feito para o New York Times a inúmeras agencias. Seu primeiro grande trabalho é para empresa telefonia AT&T, em curto espaço de tempo seu cachê passou a ser de US$ 1.000 por semana. Foi à primeira negra a ser capa da Life, uma das publicações mais relevantes ta época.
Sua linha de produtos de beleza para mulheres negras Naomi Sims Collection é um sucesso até hoje, mesmo após sua morte.
A primeira modelo negra a estar na capa Vogue foi Donyale Luna, o fato ocorreu em 1966 na edição britânica da revista. Nos EUA também foi à primeira negra a estampar a Harper´s Bazaar. Obteve grande sucesso na década de 70 como atriz trabalhando com grandes nomes como:  Andy Warhol, Federico Fellini, Otto Preminger e Carmelo Bene. Infelizmente teve uma morte prematura por overdose, em 1979.
Waris Dirie não obteve sucesso apenas no mundo da moda, somali, a modelo após seu nascimento foi infringida ao castramento feminino; ato considerado hoje mutilação, que consiste em reconfigurar toda a vagina, através de um método arcaico e sem higiene. Quando Waris foi desposada fugiu de sua tribo até a capital do país, e sua avó a enviou para embaixada da Somália em Londres.
Waris passou a trabalhar como doméstica e anos mais tarde como garçonete, quando foi descoberta por um fotografo da época. Waris Dirie foi um dos nomes mais expoente da moda na década de 80 e, nos anos 90 foi convocada a embaixadora da ONU, quando começou sua luta contra o processo de castração de seu país natal. Atualmente a modelo de grande sucesso, mantém seu cargo de embaixadora, e em 2010 estrelou uma campanha para H&M ao lado de Liya Kebede Dazzle.
Considerada uma das negras mais importantes, no segmento da música e cinema Grace Jones iniciou sua carreira como modelo no final dos anos 70, quando morava em New York e dividia um apartamento com Jerry Hall. Também foi musa de Andy Warhol sendo fotografada por ele incontáveis vezes, ademais disso era sua companhia constante nas idas ao antológico Studio 54.
O sucesso de imagem se deu pelo aspecto andrógeno e o cabelo geométrico, tornando-se mais tarde uma das grandes referências e influências oitentistas. A jamaicana em 1977 firmou seu primeiro contrato fonográfico com a Island Records, e na seqüência lançou três álbuns Portfolio – 1977 –, Fame – 1978 –, Muse – 1979 – despertando grande admiração do publico gay.
Seu estilo agressivo e dotado de elementos que remetem ao estranho foi idealizado, junto ao estilista Jean-Paul Goude, que anos mais tarde se tornou seu marido. Grace Jones é uma das precursoras do movimento crossdressing que teve inicio na metade dos anos 80. No cinema Jones fazia parte do circuito undergroud, realizando filmes de baixo orçamento geralmente com conteúdo de sexo explicito. Em 1984 interpretou a amazona Zula em Conan o Destruidor, grande sucesso cinematográfico da época, em seguida recebeu um papel de grande destaque em 007 A View to a Kill – 1985 –. Mas foi em 1986 que Grace rodou se grande sucesso cinematográfico, o aclamado entro publico cult “Vamp”, nesse filme Grace Jones exibia uma pintural corporal do famoso artista Keith Haring. Percursor do movimento grafite e pezarosamente um das muitas vítimas da morte por HIV nos anos 80.
Atualmente Jones continua sendo presença forte no mundo da moda, através de sua imagem andrógena, excêntrica e alusiva. Como cantora  realiza concertos em sua maioria, em circuito fechado e B. Seu último papel em um filme foi em 2001 ao lado de Tim Curry em Wolf Girl, no qual Jones é uma travesti.
A também somali Iman assinou seu primeiro contrato como modelo em 1976, com a Vogue Americana. Fato que ocorreu muito próximo a publicação da capa da modelo Beverly Johnson – a primeira negra na Vogue EUA – que também foi a pioneira da Elle America. Na sequência Iman aparece em diversas publicações ao redor do mundo, participando de campanhas para Gianni Versace, Donna Karan, Calvin Klein e Yves Saint Laurent.
Em 1987 casou-se com o mega astro David Bowie, com que está até hoje. No final da década de 80 diminuiu suas atividades como modelo e se embrenhou pelo mundo da atuação, não obtendo grande resultados. Participou de Miami Vice – Seriado cult dos ano 80 – e no cinema  atuou em dois filmes: Sem Saída junto a Kevin Costner e Entre dois amores, que trazia no elenco grandes nomes como Meryl Streep e Robert Redford.
Mas sua grande cartada comercial viria nos anos 90, quando Iman lançou sua marca de beauty  Iman Cosmetics. que obteve grande resultado comercial, nos anos 2000, quando sua empresa se fundiu a Proctor and Gamble, a ex-modelo mantêm até hoje seu cargo de diretora executiva.

Raimunda Nonata do Sacramento, baiana nascida em 1949 foi uma das primeiras modelos brasileiras a fazer grande sucesso fora do país. Sobre o pseudônimo de Luana de Noailles a modelo foi descoberta aos 16 anos, quando era modelo da Rhodia ,– mega indústria do ramo têxtil – o estilista Paco Rabanne se encantou com a jovem e, embarcou com ela para França. Já estabelecida na Europa, Luana fazia parte do time da agência de Catherine Harley, durante esse período modelou para grandes marcas mundiais, como: Yves Saint Laurent – na época era uma de suas modelos preferidas – e Christian Dior. Em 1977 Luana de Noailles se casou com o Conde francês Gilles de Noailles e, encerrou sua carreira como modelo dedicando-se as atividades como Condensa.
Em 1982 a Beija-Flor ainda sobre as mãos de Joãozinho Trinta, rende uma singela homenagem à modelo, intitulada ”A grande constelação das estrelas negras”. Que por sinal rendeu o título de campeã do carnaval carioca para escola naquele ano.
Veluma foi outra modelo Brasileira de grande projeção na década de 80, ao encerrar suas atividades nas passarelas se dedicou a capacitar novas profissionais para o segmento de moda.
Yves Saint Laurent foi um dos estilistas que mais admirou a beleza negra, e também foi um dos percursores a contratar manequins negras. Sua paixão pela Africa sempre foi muito clara, estando presente de maneira forte em suas coleções no período de 70 a 80, época de ascenção das modelos de pele escura.
O mito Naomi Campbell,  faz parte da geração das supermodels da década de 90, a mesma de: Linda Evangelista,Cindy Crawford, Claudia Schiffer, Christy Turlington, Elle MacPherson, Stephanie Seymour, Paulina Poriskova, Karen Mulder Tyra Banks – que foi a primeira afro-americana as ser capa da GQ e Sports Illustrated, hoje integrante do time de America´s Next Top Model – e  Helena Christensen. A mega top britânica, nasceu em 1970 e já no final da década que seguia seu nascimento começou a fazer sucesso. Aos 15 Naomi, frequentava a escola de arte Italia Conti onde cursava dança clássica, e foi nessa época descoberta por um agente da Elite Model, John Casablancas, que ficou encantado com sua beleza que mistura traços jamaicanos e chineses. No ano de 1986 ela estampou a capa da Elle inglesa, e posteriormente se mudou para Paris, nessa época Naomi já era preferida de alguns fashion designers como:  Versace e Ralph Lauren.
Em 1988 Naomi foi a primeira negra no mundo a estampar a capa da Vogue francesa, outras edições de diferentes países trouxeram diferentes modelos negras, mas Naomi foi a primeira a estrelar no berço da revista francesa.
Nos anos 90 já estava estabelecida em New York, e junto a Eva Herzigova fez antologica campanha da Guess. Na mesma década foi uma das musas anuais do cotado calendário da Pirelli. Em 95 mesmo ano do calendário, lançou um single intitulado Babywoman, que atingiu a marca de 1 milhão de cópias vendidas e, um livro intulado Swan, que narra a história de 5 modelos em viagens ao redor do mundo, envolvidas por um clima de mistério e suspense.
Na despedida oficial de Yves Saint Laurent, em 2002, Campbell desfilou para Jean Paul Gaultier, com as mãos sobre os seis desnudos.
O site Models.com listou Naomi Campbell como a 6ª, das 20 models ícones da história, a única outra modelo negra a estar nessa lista é a etíope Liya Kebe, no 10ª lugar.  Naomi Campbell ao longo de sua carreira se envolveu em uma série de escândalos, a maioria deles ligado a agressões: A funcionários, policias e até amigos.
Como atriz Campbell esteve em alguns trabalhos não tão relevantes, mas participou de uma série de vídeo clipes icônicos: O primeiro foi aos 7 anos, no famosíssimo Is this Love de Bob Marley. Em 82 foi a vez de Culture Club ter a presença da moça, no clipe do single I´ll Tumble 4 Ya. Em 1990 quando todas as rádios executavam exaustivamente Freedom de George Michael, Naomi era a estrela do vídeo. Durantes os anos seguintes da década de 90, também marcou presença nos vídeo clipes de Michael Jackson e Madonna, com os respectivos sucessos In the Closet e Erotica
A relação de Naomi Campbell com o Brasil já é antiga, ela foi uma das primeiras celebridades internacionais a transitar pelo país com grande freqüência e, a participar de um SPFW. No começo dos anos 2000 a top, desfilou na escola de samba Portela e na época o então prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia nomeou-a “Embaixadora do Rio de Janeiro no Mundo”. E em 2010 Naomi foi a Santa Catarina para o photoshoot da Morena Rosa, primeira campanha da modelo para uma marca brasileira, que gerou ampla repercussão em território nacional.
Campbell mantém sua carreira a todo vapor, atualmente reside na Rússia onde vive um relacionamento sério com o oligarca Vladislav Doromin. O casal se conheceu em 2008 durante o Festival de Cinema de Cannes.

Encerrando a década de 90, Alek Wek foi um dos nomes mais importantes do circuito fashion, pouco antes do início de 2000.  Sua beleza pode-se ser comparada a de Grace Jones, extremamente exótica e andrógena, a modelo iniciou sua carreira aos 18 anos de idade, após fugir de uma guerra civil no Sudão para a Inglaterra junto à família.
                                   
No último SPFW por decisão judicial do governo de São Paulo, foi instaurada uma cota para modelos negras, afro-descendentes e indígenas, 10% das manequins de cada desfile deveriam ser beneficiadas por essa cota. A situação gerou uma série comentários divergentes e polêmicas, porém independente dos acontecimentos elas brilham da mesma maneira na semana de moda paulistana, entre as modelos estavam: Gracie Carvalho Angel da Victoria´s Secret, Rojane Fradique que desfilou para Alexandre Herchcovitch em Paris, Samira Carvalho que abriu o desfile de Diane Von Furstenberg, no NYFW. Malana que não ganhou o Brazil´s Next Top Model, mas a cada SPFW conquista espaço e é presença garantida no casting da Neon, Ana Bela que já estampou campanha para M.A.C, Janaína Santos new face Ford Models, a carioca da comunidade do Canta Galo Lays Silva, que já desfilou para Armani, Carmelita Mendes que fez parte do casting do NYFW e a top internacional Emanuela de Paula também Angel e super requisitada no mundo fashion.
No mesmo mês do SPFW, janeiro, a Vogue Brasil dedicou sua edição a beleza negra comungando o movimento mundial “Black is Beautiful”, – que teve inicio em 1960, e permanece forte e firme até os dias de hoje – em fotos clicadas no Rio de Janeiro e Salvador. Trazendo na capa Emanuela entre outras lindas modelos jambos no miolo.

Um parágrafo especial para marca brasileira Neon de Dudu Bertholini e Rita Comparato que admira a beleza negra, e a utiliza em seus trabalhos seja como referências para peças, nos padrões de estampas, na trilha para os desfiles ou nas próprias modelos escaladas.
 Elas continuam conquistando seu espaço, acabando com quaisquer resquícios de preconceitos, após 2 séculos da escravidão, do fim dos ideais de Adolf Hitler ou qualquer outro movimento contemporâneo contra raça e cultura negra.
 Edson Godinho 

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